domingo, 13 de abril de 2008

Ele era...


...um senhor de 85 anos, magrinho, pálido por conta do câncer gástrico que lhe causava uma anemia crônica. Parecia o mestre Yoda, do Stars Wars. Sempre quieto, poucas vezes conversava com os outros pacientes.
Mas havia um deles que ele não suportava. Um outro idoso, este sim falava pelos cotovelos, e que era o queridinho de todos.
Mas, mestre Yoda tornou-se queridinho também. Todo final de semana ia para casa. Na sexta, logo cedo, já estava arrumadinho. Sempre combinando o sapato com a camisa e não permitia que qualquer pessoa o ajudasse a calçá-lo.
Depois, ficava impaciente com sua cuidadora, querendo saber a cada cinco minutos, se seu filho já estava chegando.
Eu passei muitas sextas-feiras com eles dois, mais as cuidadoras. Gostava de conversar com eles e até de apartar a briga que de vez em quando saía.
Numa segunda-feira ensolarada, mestre Yoda chegou da casa de seu filho. Sempre ficava triste às segundas-feiras, porque tinha saudade de sua casa. E também de uma mulher que amava, mas que sequer sabia que ele estava doente. O filho não deixou que isto acontecesse. Bem que tentamos interceder, porém não deu tempo.
Mestre Yoda sentou-se na varanda, debaixo de um sol quentinho e de um céu azul de brigadeiro, defronte a bela amoreira que tem no jardim da frente da casa.
- Que sol gostoso!
Foram suas últimas palavras. A cuidadora desceu para pegar alguma coisa, mas ao retornar ele estava com a cabeça caída de lado. Parecia dormir.
Ela achou que estava muito quieto, mas ele havia partido. Como um passarinho.
Que a força esteja com ele!