
(imagem: Van Gogh)
Acho que nunca contei.
Acho que nunca contei.
Fiz, há mais dois anos, um curso de especialização em Geriatria, pois a grande maioria dos meus pacientes na Cirurgia de Cabeça e Pescoço são idosos.
Um dia assisti uma aula sobre o hospice que nosso hospital mantém desde 2004. E, depois da aula, parei para parabenizar a coordenadora e idealizadora do projeto, que era uma das oncologistas do nosso hospital. Disse-lhe que fiquei maravilhada e que gostaria de fazer algo em Cuidados Paliativos.
Dois meses depois, recebo um telefonema dela, no meu ambulatório de Cabeça e Pescoço. Qual não é a minha surpresa, quando ela me convida para participar do projeto.
- Mas eu nada sei sobre Cuidados Paliativos? E, será que não vou ficar deprimida?
- Fica não, ela me disse sorrindo. Lá a gente conversa muito, é uma espécie de terapia. Você verá.
Fiquei angustiada, pois não conseguiria abandonar totalmente a Clínica de Cabeça e Pescoço, tampouco meus pacientes.
Um mês depois ela me liga e me cnvida para conhecer 'a casa.'
Vou com ela, tímida, quase não falo. Mas, ao adentrar naquele lugar, senti algo diferente. E soube, naquele exato momento, que minha vida mudaria. E que era aquilo que queria fazer daquele momento em diante.
Mas, como? Nada sabia sobre o tema. Então o jeito foi estudar.
Comecei lendo um livro, que é uma tese de doutorado de uma psiquiatra carioca, Rachel Aisengart de Menezes, que achei por acaso na Internet. Tive o prazer de conhecê-la pessoalmente no início de 2006.
Depois de ler Em busca da boa morte, de Rachel Aisengart de Menezes, comecei minha busca sobre Cicely Saunders, grande nome no tema e também sobre Elisabeth Kübler-Ross, grande tanatologista americana. Infelizmente consegui somente um livro de dame Cicely, mas todos de Kübler-Ross. Pois é, tive a sorte de ler toda a obra dela, entre edições nacionais e francesas, pois nem tudo dela está publicado em nosso pais.
Tive também a sorte de ler Marie de Hennezel, A morte intima, onde ela narra sua experiência em uma enfermaria de Cuidados paliativos em Paris. Consegui todos os livros dela, em francês. Nem preciso dizer que fiquei amiga do pessoal da Livraria Francesa, do centro de São Paulo.
Mas, meu grand debut foi no dia 25 de dezembro de 2005, quando fui constatar meu primeiro óbito la na casa. Todos se encontravam de férias. Foi um choque para mim, completamente perdida, não sabia como acolher a família, mas tentei. Acho que fui meio intuitiva. Senti-me desamparada, mas vi que aquilo era uma prova de fogo pela qual eu deveria passar.
E estou lá até hoje.
No momento estou me especializando, fazendo já o Curso Avançado de Cuidados Paliativos, ministrado por grupo argentino, ligado a Oxford.
E vou muito bem, obrigada!
Sem depressão, sem burn out.