sexta-feira, 20 de julho de 2007

Para recomeçar...

Havia o outro blog, o Cerimônia do Adeus.
Mas o nome incomodava a todos.
Tinha acabado de ler Simone de Beauvoir, Une mort très douce, onde ela fala sobre a doença e morte de sua mãe. E havia também o outro livro, La cérémonie des adieux, onde ela entrevistava Sartre (agosto a setembro de 1974). Achei mais apropriado adotar este nome.
Também me inspirei em uma paciente que tivemos, que me chamava de Dra. Simone, o que não era uma coisa incomum, pois muitos pacientes me chamam assim. Talvez eu tenha cara de Simone mesmo...
Mas eu confesso que o nome do blog passou a me incomodar também. Daí eu sumi de lá, não conseguia mais escrever post algum.
Então, dito isto, achei melhor recomeçar.
Porque as estórias continuam a fervilhar na minha cabeça, na minha vida. E preciso compartilhar com alguém. Mesmo que seja com a tela do notebook.

Bem, estive do lado de lá, ou seja, do lado dos meus pacientes. Fui operada recentemente - uma correção de doença do refluxo gastro-esofágico - e me senti exatamente como alguns deles, que não conseguem se alimentar. A depressão, o desespero, o desamparo que eles sentem. Senti também. Agora estou voltando à vida normal, mas toda esta experiência foi muito gratificante.

O novo nome do blog é Gnossiennes, inspirado em Satie.

Trois Gymnopédies (1888) e Trois Gnossiennes (1890) são minhas obras prediletas de Erik Satie. Ele se dizia o inventor da música ambiental, a musique d'ameublement, a música sendo usada como mobília para preencher o ambiente. Segundo ele, era uma música que fizesse parte dos ruídos naturais e os levasse em conta, sem se impor, que tomasse conta dos estranhos silêncios que ocasionalmente caíam sobre os convidados, e que neutralizasse os ruídos da rua. Mas sua música não funcionava porque as pessoas insistiam em ficar quietas prestando atenção à sua performance. Daí ele gritou nervoso: "Falem alguma coisa! Mexam-se! Não fiquem aí parados só escutando!". Na época sua idéia pareceu uma piada.

Algumas estórias do Cerimônia do Adeus serão transcritas aqui, porque eu não posso me esquecer daquelas pessoas. E o blog continua sendo para contar estórias da minha experiência como médica paliativista.

Allons-y!

Nenhum comentário: