domingo, 22 de julho de 2007

Fênix...

(foto: Viviane Coppola)

Seis e meia, sexta-feira.
Toca o despertador e a gata me olha, boceja e volta a se encolher. Fico mais meia-hora.na cama. E perco a hora.
Banho rápido, correria, faço o café e esqueço a cafeteira ligada, sem tomar o café.
Logo na porta de casa já percebo que o trânsito está infernal. Chego atrasada, desisto de parar para tomar aquele café que deixei de tomar em casa. Subo imediatamente ao nono andar do hospital, encontro meu paciente bem.
- Quero comer, sussurra ele, que não tem mais voz para falar.
Mando o coitado para casa. Já era tempo...
Saio correndo escadas abaixo, até o estacionamento e penso que quando chegar na casa de cuidados paliativos poderei tomar aquele café. Ilusão minha.
Temos novos pacientes, tenho de fazer a história deles, rever medicações, conversar com familiares. E um paciente, o mais antigo da casa, que entrou em processo de morte. Acolho sua esposa, conversamos um pouco e ela se mostra resignada.
- Doutora, eu entreguei nas mãos de deus, porque agora sei que não tem mais jeito, ela me diz chorosa.
Não sei, penso comigo. Ele mais parece uma Fênix, tudo é possível, inclusive estar de pé amanhã.
Subo para examinar os outros pacientes. Um deles, subitamente, deixou de fumar, está confuso, mas completamente sem dor. E com um apetite voraz e inexplicável. Abre seus grandes olhos azuis, me olha, sorri e fala palavras desconexas.
- Mas, parou de fumar, como assim?
- Não sei, doutora, de repente disse que não tinha mais vontade. Fumou o último ontem.
Mau sinal, penso eu.

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