segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sono...


Quarenta e três anos, mulher, câncer avançado do intestino grosso. Bonita, depois de tantos tratamentos fracassados. Pais idosos, dois filhos jovens, um ex-marido, um namorado. E um medo grande da morte, o que não a deixava dormir. Todas as medicações possíveis foram usadas para ajudá-la, mas nada funcionava. Talvez dormir fosse morrer um pouco. Será que ela pensava isso? Certamente...
Ficou triste quando um paciente idoso partiu. E, a partir daí começou a pensar mais na sua viagem. Dizia que não podia morrer neste momento, que ainda tinha muitas coisas para fazer.
Foi deitar na véspera daquele dia, apesar de saber que não pegaria no sono, que brigaria novamente com a medicação, mesmo que sem querer. Seu pai era seu cuidador e seguia o pacto do silêncio.
No dia seguinte ele me diz que ela finalmente dormiu, por volta das 5 da manhã.
- Estava muito cansada, doutora. Fazia noites que não pregava os olhos. Agora ela está dormindo como uma pedra, disse-me ele com olhinhos esperançosos.
- Mas ela vai acordar, não vai?
Fomos vê-la. Sem motivo algum, ela havia desligado o botão. Estava tranqüila, com seus sinais vitais normais, parecia dormir. Entrou em coma e morreu no final daquele dia. Como se estivesse dormindo. Tranqüilamente.
____________________
(imagem: Wladimir Kush)

5 comentários:

Marie Jeanne Sermoud disse...

Não conhecia o outro, agora conheço ambos. Já está no meu favoritos!

Beijo!

andrea dutra disse...

ALma, estive no seu outro blog, li tudo! Me emocionei muito com seus relatos. Acabo de perder meu padrasto pra um cancer e vi de perto tudo o que vc descreve. Acho muito importante vc escrever sobre esse momento indizível, que as pessoas nao querem admitir que vão ter que encarar. Queria te fazer tantas perguntas que acho que muita gente tb quer fazer... talvez vc pudesse me dar uma entrevista e eu tentaria publica-la, nem que fosse pela internet... interessa?

andrea dutra disse...

ah, eu sou do blog avant_derniere.blogger.com.br

andrea dutra disse...

ah, esqueci de comentar: adoramos satie, né? rs

Anônimo disse...

Muita sensibilidade. Sou leitor assíduo do seu blogue. Não desista.